Mas saia da tela, e imagine que a afetividade de fato se tornou um produto que você pode comprar na loja de aplicativos do seu smartphone. Veja só, não estamos falando de aplicativos como Tinder, onde match é gerado intencionalmente por nós mesmos, pelas nossas preferências visuais ou descritivas, e que não garante um relacionamento duradouro. Estamos falando de um algoritmo tecnológico que localiza dentro dos nossos DNAs a pessoa que vai dar certo conosco para sempre, e está ali, disponível na palma da sua mão.
Talvez afetividade em tempos de isolamento social tenha se tornado algo mais importante do que era antes. Talvez a solidão e a falta de interação social tenham surgido como um dos grandes problemas que muitas pessoas jamais imaginaram que iriam enfrentar. Somos inevitavelmente seres sociáveis, e mesmo neste cenário de distanciamento social, temos buscado alternativas virtuais para nos mantermos conectados. Se a afetividade era tão naturalizada em nossas vidas antes, com toda certeza agora ela se tornou visível, e a falta dela também.
S3 você pudesse acessar agora a loja de aplicativos do seu telefone, e comprar o amor, você faria? A certeza de um relacionamento feliz, duradouro, saudável e fiel. Em poucos cliques você descobriria quem é essa pessoa, e iniciaria com ela uma história de amor sem fim. Acontece que, neste produto bilionário, o match de DNAs não leva em consideração gênero ou sexualidade. Então o que você faria se a combinação perfeita para sua vida afetiva fosse de um gênero que você jamais pensou em se relacionar? E se o seu DNA te dissesse que você está destinado a ser feliz somente com aquela determinada pessoa, que é do mesmo gênero que você?
Se ali naquele aplicativo você descobrisse que a única forma de ser afetivamente feliz pelo resto de sua vida, fosse em um relacionamento homossexual? A esta altura você já viu quem é seu match, e já está, como o produto descreve, perdidamente apaixonado por aquela pessoa. Você negaria a chance de ser amorosamente feliz pelo resto de sua vida por algum tipo de preconceito?
Reparem bem que neste mundo capitalista em que vivemos, tudo que é "produtizado", é normalizado. Então essa não seria uma realidade que só você estaria encarando, mas milhares de outras pessoas no mundo todo, também. E assim como a afetividade teria sido "produtizada" neste contexto, a orientação sexual teria deixado de ser um problema social.
Agora neste momento enquanto você está imaginando o seriado, e o cenário deste tipo de relacionamento como única forma de ser afetivamente feliz, talvez você também não esteja vendo problema algum. Mas na falta de uma grande empresa bilionária dizendo que está tudo bem ser gay, lésbica, ou qualquer outra sexualidade não normativa, a sociedade continua a agir de forma preconceituosa.
Será que você realmente precisa de uma empresa bilionária, ou de um produto baixado em seu smartphone, para repensar os seus preconceitos? Esse produto não existe na realidade, mas as relações afetivas que não são um problema na tela, e são tidas como um problema social fora dela, são reais.
E por mais que o amor não seja - pelo menos ainda - um aplicativo comprável, há algo que você pode fazer com relação à afetividade que não depende de nenhum seriado, de nenhuma empresa, nem de nenhum produto. Não existe garantia de histórias de amor sem fim, mas o preconceito sim, pode ter fim, e ele não depende de nada, além de você.... -
Noah Scheffel
A partir do UOL. Veja no original :
https://www.uol.com.br/ecoa/colunas/noah-scheffel/2021/04/05/e-se-o-amor-estivesse-a-venda.htm
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