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Serge Gainsbourg, Jane Birkin e a filhota Charlotte |
Se a gazela for safa, sábia, mal algum há em tal pronúncia, até apreciará o empolgante anúncio como uma poesia de fundo, como se uma música de Serge Gainsbourg –Je t’aime moi non plus- estivesse tocando no quarto de alta rotatividade àquela altura.
Pensará a moça, bem baixinho,“que doce vagabundo”. Terá sido apenas um pequeno crime, como num bolero, um besame mucho, um cha-cha-cha no Motel Caribe.
Sim, a gazela pode entender como um “eu te amo mesmo, de verdade-verdadeira, assim como Deus sobre todas as coisas”.
Que mal há nisso?
Quantos amores à vera começaram com um “eu te amo” de mentira?
Ao tratar pela primeira vez do assunto, o camarada Ivan Marsiglia me lembrou de uma crônica do Ferreira Gullar, aqui sampleada:
“Aprendi que não é tão fácil dizer eu te amo sem pelo menos achar que ama e, quando a pessoa mente, a outra percebe, e se não percebe é porque não quer perceber, isto é: quer acreditar na mentira. Claro, tem gente que quer ouvir essa expressão mesmo sabendo que é mentira. O mentiroso, nesses casos, não merece punição alguma.”
Nesses tempos de amores líquidos, de amores ficantes, de amores-vinhetas de 15 segundos, quem saberá o que venha a ser o amor patenteado pelos deuses gregos?!
O melhor mesmo é dizer, sem medo, eu te amo, e honrá-lo pelo menos enquanto o sublime eco resistir entre aquelas abençoadas quatro paredes.
E se ela acreditar, ora, ora, manda um “eu te amo,meeeesssmmmoooo”.
Com olhinhos revirados, vamos mais fundo ainda: “Eu te amo até o fim dos tempos”.
Se ela não está nem aí, você se vira para o piano e ordena, como no filme Casablanca, mesmo que estejam atravessando a avenida Afonso Penna em Belo Horizonte,
seis horas da tarde, buzinaço, hora do ângelus: “play, again, Sam!”
E manda mais “eu te amo”, como um estribilho do vento, nas oiças da desalmada, até ela acostumar com a natureza humana do macho que veio ao mundo como um cowboy solitário que tem apenas um mantra, uma bala no coldre dos sentimentos: “eu te amo”.
Monocórdico e doce canalha cujo cardiograma é um terremoto de “eu teamos”a fazer gráficos esquizofrênicos que assustam o mais zen dos cardiologistas.
Antes um “serial lover” a dizer eu te amo como um cuco desembestado a um elíptico e silencioso cabra safado que guarda os “eu te amo” para a hora do chifre ou para a extrema-unção de fato.
Donde baixa um Esopo fabulador para deixar a moral da crônica: mais vale um “eu te amo” que entre por um ouvido e saia pelo outro do que um silêncio mortal de um homem que nunca se empolga e deixa a gazela achando que “eu te amo” é coisa só de novela e de filme americano.
A partir da Folha de S.Paulo. Leia no original
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