Milton Hatoum |
É para ler, ouvindo o bolero “No puedo ser feliz” na voz de Bola de Nieve – a propósito, um dos músicos preferidos do escritor Milton Hatoum. Que faz questão de sugerir um fundo musical para falar de literatura e amor: quem nunca ouviu que faça o favor de navegar atrás da magistral interpretação do pianista (e cantor) cubano. “A letra diz assim, ‘não posso ser feliz… não posso ter consciência e coração’ – mais ambíguo impossível! Os jovens mal sabem do que se trata, mas deviam conhecer…“, comenta Hatoum, 58 anos, dois casamentos (o atual em vigor há doze anos), uma enteada e dois filhos, que assegura às vezes ser possuído por “arroubos românticos – a vida sem enlevo é uma chatice!”.
Ele anda neste momento envolvido na escrita de um romance que, ao contrário dos anteriores (“Relato de um certo Oriente”, “Dois Irmãos” e “Cinzas do Norte”) será ambientado em Paris – e não na Manaus natal. Descendente de libaneses, escritor de prestígio entre os brasileiros habituados a ler, Hatoum se mostra particularmente interessado em sugerir leituras dignas de um Dia dos Namorados. “Uma boa história passional reflete uma experiência rica e complexa… Nossa educação sentimental é conseqüência da experiência de vida e de leitura”, diz ele, com vontade de fazer pensar – e assim alimentar um pouco mais a paixão de ler.
“Li esse romance em 1970, em São Paulo. Guimarães introduz a questão do homossexualismo na obra escrita em 1956 e se coloca assim na vanguarda – basta lembrar como essa questão continua a ser polêmica… Narrada pelo velho jagunço Riobaldo, a história de amor com o seu companheiro de jagunçada, Diadorim, é uma das mais belas e comoventes da nossa literatura. Amor impossível e, ainda assim, verdadeiro, cujo desfecho é surpreendente. ‘Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura’”.
2. Arábia, de James Joyce
“O conto (do livro Dublinenses, publicado em 1914) é uma espécie de iniciação amorosa de um jovem que sonha com seu primeiro amor. O conto é ambientado em Dublin, Irlanda. O título refere-se a uma loja dessa cidade, mas as sílabas da palavra (“Arábia”) remetem o narrador ao encanto oriental. Uma bela narrativa sobre a descoberta do amor, marcada pela frustração – sim, porque o encontro ansiado não acontece.”
“O conto (do livro Dublinenses, publicado em 1914) é uma espécie de iniciação amorosa de um jovem que sonha com seu primeiro amor. O conto é ambientado em Dublin, Irlanda. O título refere-se a uma loja dessa cidade, mas as sílabas da palavra (“Arábia”) remetem o narrador ao encanto oriental. Uma bela narrativa sobre a descoberta do amor, marcada pela frustração – sim, porque o encontro ansiado não acontece.”
“Foi um dos primeiros contos machadianos que li na minha juventude, quando ainda morava em Manaus, pertencendo ao livro Várias Histórias, de 1896. Sutil e irônico, o narrador conta a história do amor platônico de um jovem com uma mulher casada. Na prosa de Machado, essa relação erótica é insinuada pelo olhar, sonho e devaneio. Ele fala também sobre o adultério velado, afinal, ela também se interessa pelo jovem – o que, no final do século 19, era uma revolução amorosa…”
4. Mineração do Outro, de Carlos Drummond de Andrade
“Esse grande poema sobre o amor é também um modo de refletir sobre a relação amorosa: ‘Amor é compromisso com algo mais terrível do que o amor? – pergunta o amante curvo à noite cega, e nada lhe responde ante a magia: arder a salamandra em chama fria.’ Está incluído no livro Lição de Coisas, de 1962. Li esse e outros poemas de Drummond quando estudava em Brasília, no final dos anos 60. Drummond vai atrás do entendimento do amor – e não consegue. Um ‘poetaço’, o meu favorito na reflexão do amor”.
“Faz parte do livro Laços de Família, de 1960. Nesse conto, a protagonista Ana vê um cego mascando chiclete na parada de um bonde. Essa visão gera uma crise na vida existencial e moral dela. ‘Um cego mascando chicles mergulhara o mundo em escura sofreguidão’. A piedade que Ana sente pelo cego é ‘tão violenta como uma ânsia’, e esse olhar compassivo muda o modo de ser da personagem. O amor surge do inesperado e pode perturbar uma vida aparentemente apaziguada. Caberá ao leitor percorrer e imaginar os meandros do sentimento de Ana.”
A partir do site Educar para Crescer. Leia no original
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